terça-feira, dezembro 14, 2004

O Avô das Laranjas



Joel era um miúdo dos seus 4 anos, irrequieto e curioso que vivia numa aldeia perdida pelo progresso.

No fundo do caminho de sua casa vivia o seu tio-avô Francisco conhecido na aldeia pelo Chico das Laranjas devido ao frondoso laranjal que tinha no quintal e que tratava diariamente com afinco.

Os pais de Joel trabalhavam longe de casa e muitas vezes o gaiato era confiado ao Chico. Assim se criou uma relação de amizade entre os dois.

Muitas vezes Joel ajudava "O Avô das Laranjas", era assim que o chamava, a cuidar do laranjal, e quando o fazia inspirava com satisfação o cheiro dos frutos daquele pomar, parecia serem diferentes dos que tinha em casa, talvez o perfume fosse mais intenso ou as cores mais vivas, não sabia, o facto é que lá gostava de correr, saltar e andar ás cavalitas do Chico para apanhar laranjas.

Chico, agora que tinha os filhos lá longe em Lisboa, via naquela criança de olhar irrequieto e sorriso fácil alguém para partilhar a sua vivencia sempre ligada à terra.

Para Joel aquela figura idosa, de boné à la Che e rugas marcadas, era alguém que compensava os pais ausentes a ganhar o tostão e também a falta do seu verdadeiro avô que já tinha partido desta vida antes dele cá chegar.

Assim o Chico passava por sê-lo. E muito bem.

O tempo passou, Joel cresceu e o laranjal de Chico também.

Mais ou menos por altura da Quarta Classe do ganapo, Chico adoeceu e depois de alguns meses de sofrimento, também ele juntou-se ao irmão no Outro Lado.

Joel chorou. E as laranjas nunca mais cheiraram tão bem.

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