segunda-feira, maio 30, 2005

O Adepto do...



Tem 30 anos, é contabilista numa empresa com off-shore na Madeira, vive na Capital de Distrito pois é um local mais cosmopolita, lê regularmente a revista Exame e o Financial Times, é solteiro e não sabe (ou finge não saber) dos rumores que os colegas fazem sobre a sua orientação sexual.

Gosta de desporto e está inscrito no Spa da moda, frequentando-o regularmente para manter-se em forma. É o único local onde o vemos suar, mas por pouco tempo pois logo a seguir toma um duche.

Vive sozinho e já pensou ter um gato mas achou pouco higiénico, preferindo dar os seus mimos ao Mercedes e fatos Hugo Boss.




Vive algures entre Porto e Braga e tem uma fábrica de têxteis do tamanho da sua moradia. Acha as empregadas umas incompetentes e mal-agradecidas pois se não fosse ele estariam na miséria (o ordenado mínimo que ele dá desde o início é uma fortuna...).

Começou como vendedor após o 25 de Abril e à custa de muito trabalho (e trafulhice, dizem as más-línguas) conseguiu montar a fábrica.

Durante 20 anos trabalhou de sol-a-sol, não tendo tempo para ver os filhos crescer, nem nas férias do Colégio Interno. Agora com o mais velho na Universidade Privada, já vai ao Algarve com a Mulher e vê a Quinta das Celebridades, porque chatices já ele tem durante o dia e com o Iva a 21% ainda vai ser pior...




É funcionária administrativa de uma Escola Secundária, tem 35 anos, cabelo oxigenado e já viu muitas reformas e professores, atribuindo a culpa do estado de coisas ao PSD quando está no poder ou ao PSD quando o governo é PS.

Vive num apartamento no centro da cidade e antes de ir para a Escola passa pelo quiosque em frente para dar dois dedos de conversa e comprar a Nova Gente ("Eu não gosto destas revistas, é só para ver as figuras tristes dos famosos...") ou O Público quando o marido se esquece de comprar.

O marido é Técnico Superior na Câmara e foi com uma cunha do sogro que arranjou o tacho na Escola, embora assegure a todos que foi por mérito próprio.

Gosta de cinemas e Centros Comerciais onde compra a roupa e faz as compras mensais.




Vive na Amareleja numa casa térrea caiada de branco e rebordo azul. Agora que se reformou passa os dias sentado à sombra falando com quem passa.

Ainda sente saudades do tempo da reforma agrária e fala com entusiasmo do tempo em que Álvaro Cunhal falou naquele local.

"- Parece que foi ontem..."

A filha está em Lisboa e de vez em quando regressa para os ver.

"- Mas já não tanto como antes...Desde que a cachopa foi para lá que está diferente...Já não liga a isto!"

Está na hora da janta, a mulher chama-o e lentamente levanta-se dizendo no final: "Isto está bom é para os montanheiros que agora vêm para aqui ao fim-de-semana, eu não entendo aquilo...vêm para aí com umas motos de quatro rodas...Bem sei que é o progresso mas...Olhe no tempo do Cunhal a vida era melhor!"




Chama-se Jamila, tem 23 anos, é finalista do curso de Arte & Design, metade dos seus amigos são homossexuais e assume orgulhosamente a sua bissexualidade.

Gosta muito de festivais de música, todos os anos vai sempre a um diferente e lembra-se ainda de ter ido ao Festival d'O Avante! com os pais quanto tinha 7 anos.

Apesar de frequentar Centros Comerciais não vai ao Mc Donald's, compra incenso indiano e prefere roupa inspirada nos Andes.

Diz-se muito ligada às artes mas desliga de um artista se por acaso ele atinge o reconhecimento mainstream, afirmando no final: "O primeiro disco/filme/whatever é que era bom!..."

Vive num apartamento com mais duas amigas e um amigo, que por sinal é bi tal como ela.

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