O Triângulo, cap. I

Triângulo Escaleno - Três lados com medidas diversas originando ângulos diferentes.

Carolina não era bonita nem feia, era uma mulher comum cujo traço diferenciador eram dois dentes salientes à frente, que em conjunto com um brilho especial na menina dos olhos, davam-lhe um ar de coelhinha irrequieta.

O dia começa, o sol acorda e Carolina levanta-se da cama. Fernando está ausente mais uma vez, há dois dias que foi para Paris. Por momentos dá-lhe a saudade dos dias na Faculdade, do Fernando dedicado, daquele que a acordava com beijos e um "Bom Dia" meloso.

Fernando tinha mudado mas isso agora não interessava, era hora de preparar para ir trabalhar. Depois do pequeno-almoço na pastelaria por baixo de casa, avança com o seu novo Smart usado para o emprego ainda meio ensonada.


Rui era o colega de trabalho de Carolina, vivia perto do escritório e conhecia bem a zona, sendo também a força dominante no grupinho do escritório. Apesar de não ser especialmente bonito, sabia vestir-se e emprestava um charme muito próprio à sua pessoa.

O barulho dos carros acorda-o e vira-se para o outro lado. "7:57, ainda faltam três minutos para tocar o alarme" - pensou. "Deixa-me estar mais um pouco". Os três minutos passam, o alarme toca, mas mesmo assim falta-lhe a vontade. A noite foi comprida e a cama sussurra-lhe coisas inconfessáveis.

Depois de pensar no que ia vestir, decidiu sair da cama. Minutos depois passa pela cozinha e prepara rapidamente uma sandes, saíndo logo de seguida ao som das palavras da Mãe: "Pois, és sempre o mesmo, sais sempre atrasado, nem te alimentas direito..."


Fernando namorava com Carolina há três anos, a qual vivia com ele há sete meses, altura em que finalmente largou Porto de Mós e juntou-se a ele no T1 do Canidelo. O seu aspecto algo formal contrastava com a profissão (Designer Gráfico) e a barriga denunciadora de cerveja.

8:57 e Fernando dorme. A demonstração do site ao cliente correu bem e o negócio está quase fechado. Faltam mais dois dias para regressar a Portugal e menos ainda para o seu encontro no Quartier Latin.

A meio da manhã Fernando acorda e procura o telemóvel. Uma mensagem da Carolina. Sempre que estava fora, ela mandava-lhe um sms ao princípio da manhã. "Tenho imensas saudades tuas, beijos saudosos". Sorriu. Lembrou-se da última noite, da ponta de ciúmes que sentiu quando ouviu falar do jantar da empresa. Sorriu de novo. "Eu, com ciúmes, depois do que lhe ando a fazer...". Por momentos sentiu vergonha.