domingo, maio 21, 2006

O Triângulo, cap. II

dTriângulo Escaleno - Três lados com medidas diversas originando ângulos diferentes.

Ao princípio da tarde o ritual o costume, Carolina juntou-se a Rui e duas colegas, Lina e Ana, para tomar café no Mirasol, momento necessário para vencer a moleza vespertina. A "coelhinha", como Rui lhe chamava, já não se lembrava da altura em que ficou viciada naquela mistura de grãos escuros com água, mas tal não era de admirar pois pensar sem o café da ordem era difícil...


Enquanto comentavam a conquista amorosa do futebolista do momento, Carolina ouviu Lina comentar: "Eu é que não me importava nada de andar com ele...Gajo bom, cheio de dinheiro...Quem me dera!". Carolina não gostou da boca e respondeu: "Acho que o teu namorado não ia gostar disso...", ao que esta respondeu: "Olha, estou comprometida mas não estou morta!".

Carolina não comungava dessa opinião, talvez pela educação, talvez...O certo é que tais palavras ecoaram na sua mente durante o resto da tarde e fizeram-na pensar no Fernando, "Será que ele também pensa assim?". Ligou a conversa ao desinteresse que ele agora lhe prestava, bem contrastante com o interesse (ou seria obsessão?) inicial em vê-la nua na cama...


Mais uma vez Rui foi com as colegas à pastelaria do lado e saudou com o sorriso de sempre a menina que os servia. Gostava deste bocado, a companhia agradável e bem-humorada servia para esquecer o trabalho chato na secção de Compras. Ali sentia-se importante, gostava de brincar com elas e sentia especial gozo em provocar a Carolina com temas picantes pois esta não se ficava atrás e respondia na mesma moeda.

Numa conversa light de café, Lina a dada altura sai-se com esta: "Eu é que não me importava nada de andar com ele...um gajo bom, cheio de dinheiro...Quem me dera!". Seguida pela resposta de Carolina: "Acho que o teu namorado não ia gostar disso...".

Então Rui lembrou-se que Carolina tinha namorado, às vezes esquecia-se e levava a provocação longe demais...Aí ela cortava na confiança e durante um dia ou dois distanciava-se...Para voltar tudo ao mesmo. "Namorado ausente, coração quente..."- pensava assim da "Coelhinha". Ela era o fruto proibido, aquele que se gosta de trincar mesmo sabendo que não se pode. E mesmo sabendo que a Ana parecia enciumada com tudo aquilo.


17:15 e o Metro de Paris começa a encher. Fernando vai para St. Michel Notre-Dame e já não consegue um lugar sentado. Dois jovens de raça negra olham para ele e este responde fixando o olhar algures no infinito. Não gostava de ser olhado fixamente, ficava sempre com a impressão de saberem o seu segredo.

Entretanto reparou que a rapariga ao seu lado era muito parecida com alguém...Mas não sabia bem de onde. Tentou lembrar-se e tal esforço transportou-o para o dia em que conheceu Carolina, no saudoso Estudantino, café ao lado da universidade e que servia de poiso antes das aulas da tarde. Foi aí que um dia viu na mesa da trupe uma nova amiga da Rita, a sua amiga por vezes colorida.

O sorriso nervoso denunciava ser do primeiro ano e os incisivos desenvolvidos chamaram-lhe a atenção. "Mal sabia eu..." - pensou, enquanto a sua boca ensaiava um sorriso no meio do Metro. Chegou à paragem. O encontro está próximo.

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