O Palhaço de Classe Média

Antes havia apenas o Palhaço Rico e o Palhaço Pobre.

O primeiro era alto, pálido e de boas maneiras, sempre com a palavra certa no momento certo. Já o segundo era mais engraçado, ria com gargalhadas estridentes e vestia roupa colorida, nem sempre em bom estado e quase sempre de gosto duvidoso.

Até que na segunda metade do Séc. XX surgiu um novo tipo de Palhaço, o Palhaço de Classe Média (PCM).

Agora que essa espécie se encontra em perigo, decidi deixar este texto para que as gerações futuras fiquem a saber quem era o Palhaço de Classe Média.

Nascido Palhaço Pobre ou de antepassados iguais a si, o PCM pode-se definir como um Palhaço Pobre com maneirismos de Palhaço Rico, mas tal arquétipo é redutor, pois se é verdade que em privado se portam como Pobres e em público procuram passar por Ricos, na realidade existem vários tipos de PCM's:

Palhaço de Classe Média-Alta Urbana: Com elevada formação circence (Muitos terão andado na U. Chapitô), são vistos como liberais pois aceitam cruzar palhaçadas com outro tipo de artes. Só se encontram nas grandes cidades, únicos locais onde pensam encontrar quem os compreenda;

Palhaço de Classe Média-Alta Conservadora: São quase Palhaços Ricos mas falta-lhes um bocadinho assim, investem bastante nos seus descendentes por forma a que estes entrem no Olimpo dos Ricos. Alguns jovens palhaços da classe deixam-se influenciar pelos ideais da U. Chapitô e viram Urbanos;

Palhaço de Classe Média Burguês: Provavelmente já nasceram no meio e por isso têm alguma inveja dos Palhaços Pobres com sucesso, chamam-lhes Novos Ricos ou Palhaços de meia tijela. Queixam-se sempre da crise do sector Circense mas logo a esquecem quando vão passar férias ao Brasil, a Meca desta classe;

Palhaço de Classe Média Faz-Tudo: Esta classe também é conhecida por tapa-buracos, actuando nos Circos rejeitados pelos outros PCM. Em tempo de crise são Palhaços dos sete ofícios, aceitando trabalhar como electricistas, cozinheiros ou outra coisa qualquer enquanto praticam a arte em part-time.

Palhaço de Classe Média Itinerante: Têm como principal referência António Sala e a Rádio Renascença, embora não se neguem a utilizar a música de Quim Barreiros nos números. Os mais antigos rezam a São Bozo (Padroeiro dos Palhaços) para que regressem os bons velhos tempos dos Parodiantes de Lisboa. Os mais novos suspiram pela Televisão. Novos e menos novos percorrem as aldeias e anfiteatros da província com os seus números à espera do cheque que vem depois da sande e do sumol da praxe.