O ano do Punk. O ano de Never Mind the Bollocks...
Numa altura em que o Rock estava (de novo) em crise, sugado pelo poder do Heavy-Metal e ameaçado pela ascensão do disco sound(1), o Punk surgiu como uma injecção de adrenalina capaz de recuperar o vigor ao género.
Subdividindo-se em três escolas, a britânica (The Sex Pistols, The Clash), a nova-iorquina (The Ramones, Blondie) e a chamada Art-Punk (Talking Heads, Television, Elvis Costello), o Punk funcionou como um regresso aos temas curtos e simples, com uma forte componente contestatária, ficando famosa a frase: "Três acordes e a verdade".
Afiliado no Garage Rock dos anos 60, o Punk teve inspiração nas letras de Patti Smith (Ex: Horses '75) e na atitude anárquica/agressiva de uns Stooges, abominando a cultura hippie(2) e o Progressive Rock(3).
Sex Pistols em concerto
O ícone da atitude Punk. Na curta existência da banda (não chegaram a completar 3 anos), os Sex Pistols revolucionaram o meio com clássicos de subversão (God Save the Queen; Anarchy in the UK; Pretty Vacant) e ficaram para a posteridade como o exemplo mais perfeito da anarquia de uma banda, cujas peripécias foram dignas de um filme.
Nascido da mente do megalómano manager Malcolm McLaren, o nome da banda inspirou-se no na boutique de Vivienne Westwood(4) (SEX), usufruindo da roupa da estilista e da arte gráfica de Jamie Reid para se apresentarem com um visual uniforme (À la boy band), no qual o cabelo espetado era a imagem de marca.
Depois de tocarem em pubs de 1975 a 76, a EMI contratou-os e no final de 76 foi editado o primeiro single, Anarchy in the UK, o qual originou alguma polémica, que cresceu de forma exponencial depois de uma entrevista completamente anárquica na televisão(5) originando a revolta do establishment e lotações esgotadas da Anarchy Tour que logo se seguiu, a qual viu vários concertos cancelados pelas autoridades, receosas do que poderia acontecer...
Depois de deixar várias salas de espectáculo no Reino Unido a ferro e fogo (literalmente em alguns casos), a EMI lançou-os numa tournée europeia, a qual assinalou a entrada de Sid Vicious, fortemente contestada pelo vocalista Johnny Rotten e restantes membros da banda pois segundo estes "Ele não sabia tocar".
Efectivamente era bastante inferior a Matlock mas a vontade do manager McLaren impôs-se pois para ele Sid tinha o look e a atitude correcta, enquanto que o outro "Gostava de Beatles". Começava aqui o princípio do fim...
Depois de assinarem pela A&M Records em frente do Palácio de Buckingham e de mais uma vez causarem uma forte impressão(6), foram despedidos uma semana depois para logo a seguir assinarem pela Virgin Records.
Depois de mais um single (God Save The Queen) e de mais ataques ao poder instituído, em Outubro de 77 é finalmente publicado o disco de estreia "Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols", o qual originou mais uma vez polémica, tendo como principal razão a palavra "bollocks"(7).
Depois de mais alguns concertos no final desse ano, a tournée americana de '78 assinalou o final da carreira da banda, com uma série de peripécias a marcar a permanência da banda do outro lado do oceano(8).
No final da digressão o vocalista Johnny Rotten anunciou o fim da banda e logo em seguida Malcolm McLaren procurou espremer o limão ao partir para a produção de um filme sobre a banda, intitulado The Great Rock 'n' Roll Swindle.
Terminou assim a carreira de uma banda que teve tanto de Anarquia como de Genialidade, como de Marketing(9).
Depois da banda terminar, Johnny Rotten fundou os Public Image Limited(10), o guitarrista Glen Matlock e o baterista Paul Cook fundaram os The Professionals e Sid Vicious, esse...teve um fim Rock and Roll.
Para ouvir algumas faixas dos Sex Pistols, clicar aqui.
(1) - Estavamos no tempo dos Bee Gees e de Saturday Night Fever...
(2) - Em meados da década de 70, Eric Clapton surgiu em publicidade a cerveja e esse exemplo serviu para que muitos anunciassem o sell-out dos Rockers de '60.
(3) - Uma das T-Shirt's favoritas do vocalista dos Sex Pistols dizia: "I Hate Pink Floyd".
(4) - Então mulher de Malcolm McLaren.
(5) - O vocalista Johnny Rotten disse "merda" repetidas vezes, o guitarrista Steve Jones insultou o apresentador, tentou "engatar" Siouxsie Sioux e duas groupies que assistiam à entrevista e o baixista Glen Matlock também entrou para a posteridade ao dizer "fuck" pela primeira vez na TV inglesa. Tudo isto em directo...
(6) - O guitarrista e o baterista tentaram engatar as secretárias e Sid Vicious partiu um escritório enquanto vomitava, ferindo-se no processo e deitando bastante sangue em consequência do seu comportamento irracional...
(7) - "Testículos" em inglês.
(8) - Sid Vicious foi espancado pelos Guarda-Costas contratados para o proteger, Rotten apanhou uma gripe severa que o deixou debilitado, o som era quase sempre mau e o público quase sempre hostil, particularmente no Sul dos EUA.
(9) - Alguns dirão mesmo que o fenómeno deve-se mais ao Marketing que os envolveu do que à própria música...
(10) - Dos quais fui fã no início dos 90's e levou a que mais tarde me despertasse o interesse por "essa primeira banda punk" de John Lydon...
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