quarta-feira, junho 24, 2009

Filhos de uma pátria ausente




Tenho, tal como muitos portugueses, uma relação de amor-ódio pelo meu país. Nem é bem amor-ódio, é mais amor-queixume, esse verbo tão português como a palavra saudade.





"Só valorizamos o bom que temos quando nos falta" - Tal verdade aplica-se aos muitos emigrantes que ao menor sinal de Portugalidade fazem uma festa, não importando se é a proximidade de um jogo de futebol de uma equipa portuguesa ou mais um concerto do Tony Carreira ou do Toy, tudo serve para nos ligarmos à portugalidade.





A mesma portugalidade que quando vivendo na terra natal tanto nos queixamos.





A que nos torna tão apetecíveis aos olhos dos estrangeiros (segurança, gastronomia única no mundo, a simpatia das pessoas), mas que depressa se desvaneceria caso estes ficassem cá mais tempo e vissem o outro lado do país (A podridão da Justiça, a rebaldaria na Educação, o progressivo desmantelamento da Saúde, etc).





O português gosta de dizer que "a Culpa é do Governo", ou "a Culpa é da Câmara (Municipal) que não faz nada", mas na verdade...





...A culpa é de todos nós, pois fomos nós que os elegemos e também não seriam umas dezenas de iluminados em postos governativos (Que por sinal faltam nos Partidos do Poder) a serem capazes de mudar a natureza de um povo.





Há tempos tive um diálogo interessantíssimo com uma holandesa em que eu elogiava o ordenamento urbanístico das cidades holandesas em contraponto com a balburdia das nossas cidades, ao que esta respondeu-me que essa ordem acaba por se tornar aborrecida e que nas suas viagens ao Sul da Europa e particularmente a Portugal, o tal desordenamento ("Uma casa azul, depois outra branca, depois outra com azulejos...") que eu tanto desdenhava na verdade era um factor de novidade e interesse, que a levou mesmo a tirar fotografias a alguns desses exemplares mais excêntricos...





Nunca tinha pensado nisso dessa maneira, o que só demonstra a teoria do "Copo meio-vazio"(1) do português, mas mesmo assim não deixo de me perguntar sobre o que podemos estar a perder para ter esta liberdade urbanística.



A mesma liberdade feita de falta de regras e que lembra os meninos que passam o dia na rua por os pais estarem ausentes.







(1) - Perante um copo a meia capacidade e entre a possibilidade optimista (meio-cheio) ou pessimista (meio-vazio), o português opta sempre pelo copo meio vazio.

4 comentários:

Anónimo disse...

Bem ... o exemplar excêntrico da foto localiza-se numa zona da Marina de Albufeira (Apartamentos Costa do Ouro) e tem o toque arquitectónico de Tomás Taveira. Quer se goste ou não, temos que admitir que é diferente ...

kimikkal disse...

Exactamente, esta foto serviu para ilustrar a diversidade urbanística em Portugal.

Anónimo disse...

Bem, se o desordenamento urbanístico nacional se limitasse às cores berrantes nas fachadas estaríamos nós muito bem.
O problema é a completa ausência das mais elementares regras de planeamento, que tornou o país num autentico " aborto" urbanístico de norte a sul.

kimikkal disse...

Mas já estivemos pior, basta lembrar os vários "atentados urbanísticos" efectuados na década de 80, onde construir torres de N andares era sinónimo de desenvolvimento.