Raquel é filha de pais divorciados cuja vida se reparte por dois lares, duas camas, duas escovas de dentes e até por dois guarda-roupas.
Passa a maior parte do tempo com a mãe, verdadeiro rochedo de determinação cuja inflexibilidade no dia-a-dia choca com a vontade de liberdade que Raquel sente ("Vê-se mesmo a quem saíste" - diz a mãe em tom pejorativo referindo-se ao temperamento idêntico do pai).
Mas Raquel não se importa. Sempre que está com o pai sente-se feliz por ter alguém que a entende e adora ouvir as milhentas histórias que este conta das suas desventuras em países que só ouviu falar na televisão ou na internet.
Gostaria de ter o pai mais próximo de si, que a ajudasse nos TPC's e a levasse consigo nas suas viagens, mas...
Sabe que não é possível. Em vez disso ouve com tristeza os familiares desdenharem o rumo do seu pai ("O Gabriel nunca teve juízo, podia ter uma vida tão boa e em vez disso anda por aí aos caídos, trabalhando aqui e acolá...Nunca vai ter nada na vida").
Apesar de tudo isto, Raquel sente-se afortunada pois sabe que mesmo longe, ela estará sempre perto do coração do seu pai e que este pode não ter riqueza material mas em contrapartida ele é pródigo em vivências e rico em histórias.
E entre Ter ou Ser, Raquel prefere a segunda.
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