Joana tem 14 anos, vive com a mãe, o padrasto e o meio-irmão numa casa de classe-média suburbana da grande cidade.
Aparentemente é igual a todas as miúdas da sua idade, com cabelos lisos e negros que reflectem a luz do sol, sorriso rasgado na pele morena e olhos escuros plenos de brilho.
Todavia, nem sempre a sua vida foi assim tão "normal".
As primeiras recordações ainda são do casamento falhado de seus pais, das ausências do pai, dos gritos da mãe, do abandono e da casa abandonada no meio do nada.
Ainda se lembra da separação, da dor que teve ao abandonar os vizinhos, os amigos, os primos, da estranheza que lhe causava a confusão da cidade, das saudades dos pastos verdes, das borboletas e das flores campestres.
Os anos passaram, a vida de Joana e sua mãe recompôs-se mas as saudades continuavam e aos 13 anos quis conhecer a parte de si que faltava, do seu pai sentiu o desprezo a que a votava, afinal de que serve uma filha quando se tem Motas e se é Caçador (dos animais de duas e quatro patas), aos tios e primos apenas espelhou o desinteresse experimentado.
Faltou (re)conhecer a avó. Remetida a um Lar supostamente de Terceira Idade mas efectivamente verdadeiro Armazém de Velhos, Joana foi visitá-la sem saber o que esperar, não tinha muitas lembranças dela, apenas a voz era recordada no seu livro de memórias.
Quando finalmente a encontrou, desapertou o nó do estômago e explicou-lhe quem era, ao que vinha e se podia chamar-lhe de avó.
A idosa, ainda meio entorpecida, com duas lágrimas a saírem dos olhos disse:
- Oh filha, claro que podes, sempre és minha neta e vieste visitar-me, coisa que os meus filhos há meses que não o fazem...
Feliz por tais palavras, Joana passou o que faltava da tarde a falar com a avó e no final prometeu-lhe visitá-la todas as semanas para conversarem e fazer companhia.
Joana deixou de ser enjeitada pela sua família biológica e colmatou com a avó o buraco da metade do que lhe faltava e a avó finalmente teve alguém da sua família que olhasse por si.
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
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