sexta-feira, setembro 16, 2005

Paixão numa noite de Verão - VIII (último capítulo)

Na carta vinha o seguinte texto escrito à mão:

"Eu vi-te subir o monte de S. Macário com o teu primo e vi o que fizeram.

Se não queres que os teus pais e a aldeia toda saiba o que fizestes, vem ter ao Fontanário abandonado à saída da aldeia às 10 da noite."


O sangue de Lurdes gelou. Sentiu uma ligeira tontura. Voltou a ler o texto, pois não acreditava no que tinha lido.

Já no quarto, leu e voltou a ler o texto. Uma série de imagens e pensamentos percorreram-lhe a mente, "Quem terá escrito?...Se os meus pais sabem, matam-me!...O que é que pretendem com esta carta? Fazer-me mal? Dinheiro? Quem será que nos viu a subir o monte?!? Vou ou não vou? Pode ser só para me assustar...Ou então também pode ser uma cilada...Que fazer, meus Deus???"

A hora marcada aproximava-se e Lurdes não sabia o que fazer, o nó no estômago apertava ainda mais e quando se levantava as pernas perdiam força e tinha de sentar-se outra vez.

Mas o pavor de ser descoberta e a vergonha que teria caso tal se tornasse público levou Lurdes a ganhar coragem e decidir ir ter com o chantagista.

Depois de jantar e enquanto ajudava a mãe a lavar a loiça, disse em tom de conversa:

- Olha, vou a casa da Mónica...

- Vai lá mas tem cuidado, olha que é de noite!

- Está bem...

Ao mesmo tempo que se preparava para sair, esperou que a mãe fosse para a sala e entrou outra vez na cozinha para levar uma faca, pois caso lhe quisessem fazer mal já teria com que se defender.

Passou pela sala de estar para se despedir dos pais e saiu. Estava calor. Mesmo de noite sentia-se aquele calor do Interior, seco e sem ponta de vento.

Apesar disso naquele momento para Lurdes se fosse Primavera, Outono ou Inverno era igual, sentia suores frios e fazia um esforço para controlar as pernas. Continuou a caminhar, indiferente à temperatura, à Lua Cheia e ao que se passava em redor.

Chegou ao fontanário. Estava vazio. Procurou encontrar algum vulto ou outra presença humana. Nada. Estava deserto, tão vazio como o Sahara em hora de ponta.

Esperou alguns momentos em pé sem que nada acontecesse e sentou-se.

Talvez tenha sido uma brincadeira de mau gosto...- pensou, mais aliviada.

Não se vira as costas a ninguém! - ouviu de repente.

Lurdes vira-se e reconhece Ricardo Esteves, padeiro, homem mais velho que ela (teria uns trintas) nunca lhe inspirou confiança, fosse pelo que se falava dele ou por intimamente adivinhar que dali nunca viria coisa boa...

Então, não dizes nada?!? - perguntou Ricardo, perante uma Lurdes aparentemente petrificada.

- Foi você que escreveu aquela carta?

- Fui, porquê? Estavas à espera de outra pessoa? Se calhar pensavas que era do teu gajo, não??? ah, ah, ah...

Lurdes queria responder, expressar a sua raiva pelo gozo a que estava a ser sujeita, mas por uma razão qualquer as palavras não saíam...

- Então, não dizes nada?

(Após alguns segundos de silêncio)

- Como é que nos viu?

- Vi-te a sair da festa com o outro e como tu não me enganas, tens esse ar de enjoada mas sei que gostas e não é pouco, vi logo que ias dar uma pinocada...

- Hã???

- Sim, sim, pensas que enganas...a mim não me enganas, ouviste? Sei muito bem o teu tipo...

- Ai sim? E que tipo sou eu???

- És daquelas que se fingem muito certinhas mas que às escondidas fodem com quantos querem....

- Acha que sim!?!....

- Acho! Mas agora vais foder é comigo...


Neste momento Ricardo procura agarrar-se a ela, mas Lurdes puxa da faca e tenta feri-lo, no entanto este apercebe-se e procura tirar-lhe a faca. Consegue-o, não sem antes cortar-se entre o dedo indicador e o polegar.

- Ahhh puta!!!!!! Cortaste-me puta...agora é que estás fodida...

Lurdes tenta fugir mas ele impede-a segurando um dos braços.

- Anda cá minha puta...Não penses que foges assim...Antes de ires embora vais saber o que é bom para a tosse...

De seguida começa a caminhar em direcção ao pinhal e ameaçando Lurdes com a faca, obriga-a a ir também.

Depois de alguns minutos a caminharem num trilho de cabras chegam a um casebre abandonado, conhecido nas proximidades por dar abrigo às actividades ilícitas de traficantes e prostitutas.

Entra! - Disse Ricardo apontando com a faca o local onde antes havia uma porta.

Lurdes, amedrontada e sem saber bem o que fazer, passa para dentro daquelas paredes.

O tecto era uma amálgama de ferros que deixava passar a luz de Lua Cheia, dando ao local um aspecto ainda mais assustador e degradado.

Agora vais fazer um strip só para mim... - disse Ricardo enquanto deixava-se cair num canto sem restos de jornal e restante lixo.

Lurdes fingiu não ouvir.

Vá lá, despacha-te, não queiras testar a minha pontaria... - Afirmou Ricardo, ao mesmo tempo que apontava a faca pontiaguda a ela.

Lurdes começou a abrir os botões da blusa.

- Então? Não danças? Olha que eu quero um strip de qualidade!...- observou Ricardo com evidente sarcasmo.

Lurdes hesitou, não sabia bem o que fazer, então lembrou-se dos filmes da TV e começou a imitar os movimentos.

Primeiro a blusa.

Depois sapatos e calças.

Soutien.

Ricardo manda chegar ao pé dele. Lurdes hesita.

Ai...Tenho que me chatear!?!? - Disse Ricardo de uma forma dura.

Lurdes aproxima-se e ele toca-lhe na parte interior das coxas para de seguida percorrer as pernas tocando na pele com a faca.

Tens umas pernas boas, sim senhor...E o resto? - disse ele visivelmente excitado.

A mão dele vai em direcção à cintura de Lurdes para tirar-lhe o resto quando ela entra em pânico e acerta-lhe com o pé entre as pernas.

Aproveitando a incapacidade momentanea do agressor, Lurdes começa a correr ao mesmo tempo que chora por tudo o que lhe tinha acontecido.

Pouco depois, ainda mal refeito da dor, Ricardo pega na faca e vai em busca de Lurdes, só que depois de sair do casebre ouve uma voz de mulher a gritar. Lembrando-se que poderia andar por ali algum traficante ou coisa do género, Ricardo começa a correr para não ser apanhado...


FIM

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