segunda-feira, fevereiro 28, 2011

O Cisne Negro




Os filmes que perduram na nossa memória coletiva dividem-se em dois géneros:

- Os que documentam uma determinada época (Presente, passada ou futura) de maneira tão marcante que se tornam verdadeiros retratos desse tempo. Aqui incluo filmes geniais como "Tempos Modernos" ou "O Grande Ditador" de Chaplin, o inesquecível "Casablanca" e mais recentemente o conto de fadas à lá Bolywood "Quem quer ser milionário?";

- Outros debruçam-se sobre assuntos mais intangíveis e que sempre acompanharam o ser humano, os dramas pessoais e sociais que nos são transmitidos em forma de arte desde tempos logínquos e que têm como objeto principal o "Eu" de cada um. Estas películas têm a particularidade de relegarem o contexto histórico e social para segundo plano e concentrarem-se nas emoções que os atores transmitem, como por exemplo em "Kramer contra Kramer" ou "Closer"

Este ano os Oscares tiveram dois representantes fieis de cada um dos géneros, pois se "A Rede Social" transforma de forma brilhante Zuckerberg no Citizen Kane da "Internet 2.0" e das redes sociais, o "Cisne Negro" retrata de forma surpreendente a espiral de loucura em que entra uma bailarina obcecada pela perfeição.

O "Cisne Negro" deve muito à representação do outro mundo de Natalie Portman, mas é redutor limitar o filme apenas à atriz principal, Vincent Cassel é perfeito para o papel de encenador obcecado e abusador, enquanto que Mila Kunis (Que bela surpresa!) personifica o lado negro do Cisne, o perigo, a sedução, o desconhecido.

Surpreendente é também a escolha de Winona Ryder para o papel de Prima Ballerina caída em desgraça, mas a atriz convence neste papel, talvez por ter algo de autobiográfico...

...Por falar em autobiográfico, este é um dos pontos de contato com o filme anterior do realizador Darren Aronofsky, pois a história de "O Wrestler" não fica muito longe da vida do ator que lhe deu corpo.

A mãe de Nina serve como uma ponte entre os dois filmes, pois esta projeta na filha todo o desejo de sucesso que ela própria não conseguiu em tempo devido.

O cuidado cénico e sonoro colocado por Aronofsy neste filme é enorme, especialmente na dicotomia Cisne Branco / Cisne Negro mas se a primeira hora delicia-nos, nada nos prepara para a última meia hora, um thriller psicológico crú e inquietante, onde a fronteira entre o real e imaginário se esbate e descobrimos um improvável lado negro no mundo delicado do ballet.

Surpreendeu-me. De várias formas. E poucos são os que conseguem...


PS - Por fim uma nota para o genérico final, ele próprio um pequeno tesouro...

2 comentários:

Chantinon disse...

Sua descrição foi muito boa. Na sua lista de indicados ao Oscar, ficou faltando Winters Bone. Se ainda não viu, vale a pena assistir.

kimikkal disse...

Realmente ainda não vi, mas fica na lista dos filmes a ver num futuro próximo.