Um brilhante post do blogue FUNES:
O ócio é o pai de todas as virtudes
Eu – Se me saísse o Euromilhões deixava de trabalhar no mesmo segundo. Se estivesse a meio de um algo, nem terminava, largava tudo e fugia feliz.
Colega – Ah, acabavas por sentir falta do trabalho… Eu, nem que não precisasse do dinheiro, não gostaria de não fazer nada.
De todas as coisas absurdas que já me disseram, esta é das mais incompreensíveis.
Já não é a primeira vez que ouço coisas parecidas, assim como a ideia bizarra que preconiza que uma pessoa de luto ou com um problema grave deve trabalhar mais porque isso a “distrai” do sofrimento.
Admito que haja alguns trabalhos apaixonantes (os de 0,005% das pessoas), mas a generalidade não é.
Podemos ser afortunados ao ponto de conseguir enveredar por uma actividade profissional que não se mostre absolutamente intolerável.
Podemos, até, almejar extrair do trabalho uns resquícios de uma vaga sensação de prazer, muito de vez em quando.
De resto, o trabalho é um mal necessário, que nos permite obter os rendimentos para custear o resto da nossa vida, ou seja, custear a parcela de tempo em que estamos, de facto, a viver a nossa vida.
Sim, porque trabalhar não é viver.
Sempre pensei assim, mas, de ano para ano, esta certeza pesa-me cada vez mais, e, depois de 12 anos de profissão (nem sei se devo pensar “só” ou “já”?) acho que já não tenho conserto possível.
Embora esse fosse o mote da conversa, nem sequer falo agora do extremo improvável de obter um prémio monetário chorudo, que permitisse uma vida faustosa. Retire-se esse cenário. Ainda assim, não pensaria duas vezes se pudesse viver de forma não muito diferente, mas com TEMPO.
Tempo e liberdade – o verdadeiro luxo.
E desde quando é que não trabalhar é “não fazer nada”??
Nem era preciso mais nada do que ler, passear e ver filmes, para ocupar toda uma vida de pretenso ócio de forma delirantemente feliz.
Mesmo que eu fosse muito selectiva e só lesse os livros que tivesse a certeza que queria ler, visse os filmes que eram uma aposta segura, e visitasse os sítios que mais quero, mesmo assim, todos os restantes dias da minha vida em full time eram manifestamente insuficientes.
Na verdade, mesmo que sejamos leitores ávidos, ao longo de toda uma vida não conseguimos ler mais do que um mísero expositor na Fnac de todos os livros do mundo. Se viajarmos sempre que possível, isso equivale a conhecer uma ínfima parte dos lugares que nos fariam vibrar.
Só esta ideia já me faz querer levantar da cadeira.
Se juntarmos a isto o tempo de qualidade que seria usado para estar com quem gostamos, a fazer mil e uma coisas desejadas, nem se fala .
Por último, há ainda aqueles pequenos gostos e desejos muito pessoais. Eu, por exemplo, gostava muito de aprender Gaélico. E tiro com arco. E danças irlandesas. Não o faço apenas por falta de tempo. Porque, apesar que gostar, há gostos prioritários.
Pensando nisto tudo, como é possível alguém admitir a ideia de tempo a mais e ocupação a menos?
Nunca compreenderei.
Por isso é que, tentando aplicar à prática todos estes conceitos, escrevi este post às 15:00.
Claro que como nos próximos meses não vai haver dinheiro para pagar salários, todos estes dilemas podem ser ainda mais fáceis de resolver
domingo, março 27, 2011
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1 comentário:
Obrigada pela referência :)
Ainda bem que há mais quem pense como eu...
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