Jonas é um homem solitário, apesar de partilhar apartamento com mais três pessoas.
Acontecia que, devido às mais variadas razões, desde horários de trabalho diferentes, até simples acasos do destino(?!), Jonas nunca conseguia estar com os seus companheiros de quarto. Apenas conhecia as identidades de quase todos, já vira (ou supora ver) as suas imagens numa das muitas molduras repletas de fotografias espalhadas pelas paredes da habitação e estava certo da sua existência devido às roupas que frequentemente encontrava espalhadas pelo chão da casa de banho quando se preparava para tomar duche de manhã cedo.
Apesar de tudo, ainda era possível haver comunicação entre os quatro. Dizem que a necessidade aguça o engenho humano e, neste caso, o aguçar resultou numa engenhosa rede de troca de post its, fixos à porta do frigorífico com ajuda de um íman que tinha saído como brinde numa da promoções dos iogurtes DanoneTM, muito apropriadamente em forma de dinossauro. Cada elemento do quarteto possuía a sua própria cor, para mais fácil identificação. Amílcar, o enfermeiro masturbador obeso e compulsivo (ou pelo menos assim o imaginava Jonas) escrevia nos papelinhos de côr amarelo pálido, papeis esses que, invariavelmente, apareciam manchados; Clara(?), a única habitante feminina da casa, escrevia num papel negro com tinta de corrector; já Jonas escolheu o cor de laranja, escolha óbvia por ser a variedade mais fácil de encontrar. Mas lá no fundinho, o que ele queria era a côr transparente, para espelhar o vazio que lhe ia na alma (lindo, hem? :P). Restava ainda um elemento, o autor das mensagens dos post its brancos, mas a esse ninguém conhecia o nome ou sequer o aspecto físico. Só era, conhecidas a sua trabalhada letra tipo imprensa e as suas mensagens monocórdicas e pragmáticas.
Muitas vezes Jonas, Amílcar e Clara tinham combinado (via post-it, claro) ficarem atentos, para ver quando o quarto elemento chegava a casa, mas nunca o tinham conseguido ver, nem sequer um vislumbre que lhes permitisse, pelo menos, discernir se se tratava de um homem ou de uma mulher. No entanto, como pagava sempre a sua parte da renda religiosamente, todos os dias 27 de cada mês, no final não lhes fazia grande diferença de quem se tratava. Embora muitas vezes a imaginação de cada um os levasse a pensar nas histórias mais mirabolantes e arrepiantes e lhes escapasse a razão para esta misteriosa personalidade se esforçar tanto por esconder a sua identidade.
Batatas
* - Ao melhor jeito das colecções de raridades de artistas desaparecidos, encontrei este texto nunca publicado no 7M, datado de Julho de 2007, cuja autoria pertence a alguém com um mundo interior algo estranho mas que no fundo apenas queria ser baixista de uma banda punk.
Ricardo, alles gut aus Munchen?
sábado, agosto 14, 2010
Retro 2007 - "Todos os cavalos do Rei" *
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2 comentários:
o próximo cabrao a chamar-me de estranho leva um chuto no nariz. E nao era uma banda punk, era reggae :P. Alles super aus München, mein Freund! Und bei dir?
batatas
Alles gut, danke!
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